As comunidades caiçaras nasceram a partir do séculoXVI da miscigenação de brancos de origem portuguesa com grupos indígenas das regiões litorâneas do estado de São apulo (Tupinambás) e do oeste fluminense. Também houve o aporte de negros libertos que se afastaram das influências das áreas urbanas (cidades e vilas).
As populações tradicionais caiçaras têm tido, cada vez mais, seu modo de vida alterado irreversivelmente com o contato e à exposição direta com uma cultura diversa que se sobrepõe cada vez mais à sua, os jovens caiçaras são os mais vulneráveis a incorporar o que os meios de comunicação, turistas e moradores de áreas urbanas colocam como padrão de práticas culturais e sociais.
Na comunidade caiçara da Prainha Branca, localizada no município do Guarujá, em São Paulo, a realidade é essa: milhares de turistas todos os anos. O contato diário demuitos moradores com áreas urbanas , rádio e televisão presentes desde a chegada da energia elétrica, em 1982. Diante da modernidade, sua cultura, suas práticas, costumes, valores e seu modo de vida tradicional, acabam sendo subjugados, até mesmo por seus jovens locais, entre os quais alguns nem sequer se reconhecem como caiçaras.
Como agravante dessa situação de metamorfose de sua identidade, que relega diversos aspectos de sua cultura à memória, e que deixam de existir na prática, destacamos o perigo que essa população corre de perder suas terras caso essa identidade seja diluída, num contexto em que autoridades poderiam, futuramente, deixar de reconhecê-los como caiçaras, já que parte considerável dos jovens locais está migrando para as cidades e/ou não se auto-identifica como caiçara, sobretudo em situação em que
a identidade deveria ser ainda mais presente, revelando-se como resistencia à especulação imobiliária presente nessa área do litoral paulista .
Os condomínios luxuosos instalados nas praias de Iporanga, São Pedro e Taguaiba, são um exemplo do que tem acontecido em todo litoral, com a remoção das Comunidade Caiçara, privatização das praias, violação do direito de ir e vir das comunidades do entorno .
A Política Ambiental implementada na região desconsidera historicamente a presença das comunidades nos seus territórios, proibindo-as de manter práticas tradicionais como plantar e pescar e até mesmo construir ou reformar suas moradias, através de uma estratégia de intervenção incompatível com as possibilidades de manejo sustentável da biodiversidade na Mata Atlântica. COSTÃO DA PRAIA DO IPORANGA-GUARUJÁ SP |
Com o fim da pesca como principal atividade de sustento dos habitantes da Prainha Branca, temos que buscar pontos que continuem identificando essa população como caiçara, especialmente no contexto de uma comunidade cada vez mais integrada aos valores urbanos que caracterizam nossa sociedade atual. A resposta poderia ser seu vínculo com o mar, de caráter fundamentalmente simbólico, e a manutenção de certos elementos culturais próprios – como suas festas, lendas, músicas e artesanatos tradicionais, a prática do mutirão, as decisões comunitárias etc. . Um dos pontos de unidade da população da Prainha Branca, além de certos elementos culturais e sociais próprios – cada vez mais relegado ao passado –, é a luta pelo direito sobre suas terras, das quais se apossaram há muito tempo. Vemos a incorporação de alguns valores modernos como algo bastante arriscado para a manutenção de tal luta.
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